domingo, junho 3




Os amantes de Graça

Cena: 1


Tito, eu tenho um amante!
Tá bom minha filha. Tá. – Concordou o marido sem tirar os olhos da televisão.
Ele virá hoje de novo. -
Tá bom. Mas deixa eu acabar de assistir o jogo.
Graça colocou-se na frente dele. Tito irritou-se.
- Vá pro quarto. As janelas estão abertas e os vizinhos podem ver você pelada. Sai daqui por favor. Mais tarde faço teu suco de laranja. Agora vá lá pra dentro.
A mulher abaixou a cabeça e saiu em silêncio. Havia quinze anos que estavam casados. Tito a conhecia desde pequena. Brincavam inocentemente juntos quando ele ia para Tiribiçá, a cidade de sua família , passar as férias. Graça era a mais bonita e disputada. Seu recato forçado pelos pais a fez adotar um comportamento eremita na maioria das vezes. Nunca saia de casa sozinha. Não tinha uma amiga sequer.
Não ia a festas e bailes. Ia a igreja aos domingos e as quermesses. Sempre de braço dado com sua mãe e seu pai. Sua virtude e donzelice era sempre defendida e vigiada por eles. Aos dezoito anos começou a dar aulas para as crianças do lugar.
Tito escolheu Graça para se casar depois de muito aproveitamento na vida. Aos trinta anos já rendera-se a muitas gandaias e não quis que qualquer mulher fosse eleita para as sossegarias de sua vida. As da cidade estavam adiantadas demais e ele queria menos compromisso com os diálogos intermináveis.
Casaram-se seis meses depois do pedido oficial. Graça já tinha uma certa familiaridade com seu rosto e pelo que ficava sabendo por seus pais. Viajou vestida de noiva para São Paulo. Tito a pegou no colo para levá-la até o quarto da nova casa espaçosa que dividiriam juntos. A mulher não precisaria mais trabalhar fora. Fizeram alguns amigos no clube. Recebiam alguns deles nos aniversários e vice versa. Tinham uma vida comum. Sem traições, novidades e surpresas. As férias do marido eram sempre rumo a Tiribiçá para rever sempre os mesmos lugares e parentes. Não tiveram filhos. Graça tinha o útero seco e Tito tinha algumas seqüelas das doenças venéreas que adquiriu por descuido da virilidade incessante. Uma noite achou-se frígida. Seguiram-se outras e outras noites, tomou nojo do marido descansado e conformado demais. Até que surtou.
Tito desligou a televisão e foi para cozinha. Espremeu algumas laranjas e misturou três tipos de remédios diferentes no suco. Vestiu um jaleco branco e entrou no quarto da mulher.
Olá. Como está minha paciente preferida?
Estou bem. Trouxe meu suco?
Sim. Beba devagar.
Doutor eu tenho que te contar uma coisa.
Conte.
Ontem eu transei com o carteiro, mas não gostei. Hoje a noite o padre vem me visitar.
O padre?
É sim. Mas não conte nada a meu marido. Se não eu me aborreço.
Não vou contar. Agora durma bem. Boa Noite.
Boa Noite.
Saiu com o copo vazio na mão. Entrou no quarto dos fundos e abriu o guarda roupa. Não tinha nenhuma fantasia que combinasse com o traje em questão. Vestiu uma blusa preta e uma calça preta. Era a cor que mais se aproximava com o desejo de Graça. Trancou a porta por fora e deu a volta pela casa. Abriu a janela do quarto da mulher e pulou.


- Quem está ai? É o padre Gildo?
- Sim.
- Ela abriu as pernas e sussurrou:
- Venha padre. Quero me confessar.

Ele deitou-se na cama e começou a acariciá-la fortemente. Faria de tudo para que os pecados dela fossem perdoados e os seus compreendidos.


Elisa Carvalho

2 comentários:

Felippe Terra disse...

Q coisa linda elisa.
As palavras parecem pular da sua cabeça direto pro papel.
Me ensinaaaaaaaaaaaaaaaa.
Hehhehehehe
adoro sua escrita, soh quero ter + tempod analisar minuciosamente, e entao poder comentar com cuidado.
Bjao
=]

Unknown disse...

...amor...amor...amor
...linda cena Elisa...
...q sempre existam em vc histórias assim para serem escritas...
q os poetas digam amém!!
bjos