domingo, junho 3

O cliente especial



Marina morena Marina virou-se de lado. Com a cabeça no travesseiro sonhava com o dia do sim. Vestida branco, entrava pela igreja acompanhada por um coro entoando a marcha nupcial. Pétalas de rosas vermelhas caiam sobre seu caminho. Via a mão do homem do teu sonho colocar a aliança na sua mão esquerda. Acordou com outro homem, que não era o do teu sonho, passando os dedos na sua nuca. Estava na hora de irem embora. O dia estava quase amanhecendo. Marina sentia a boca pesar num gosto acridoce. Sentou-se na cama procurando suas roupas espalhadas com o olhar sonâmbulo. Um silêncio constrangedor pairou sobre os dois naquele momento. Ele já estava vestido e de banho tomado, cheirava a eucalipto. Aqueles sabonetes baratos de motel eram sempre os mesmos. Mais pareciam desinfetantes propositais do que perfumes. Enquanto se vestia pensava num lapso quase fatal que cometera. Não havia combinado o preço para esta transa. Marina nunca dava de graça. Não era feito aquelas piranhas de estrada e botequim de caminhoneiros, que ganhavam uma miséria para agüentar aqueles paus fedorentos em seus pedaços de corpos. Ela tinha requinte. Trabalhava como gerente numa loja de roupas finas para pessoas com altíssimo poder aquisitivo. Ele havia ido lá para comprar uma blusa para sua esposa. Diante da visão apolínea de tal cliente, Marina atropelou as vendedoras que o rodeavam de cortesias e cafés e deu-lhe pessoalmente atendimento vip. Conversaram o suficiente para que ela consentisse que ele a pegasse no fim do expediente para um drink. Assim aconteceu. Foram para um bar na cidade vizinha e outra vez se entusiasmaram o suficiente para que ambos se permitissem terminar a noite no motel.
Pensava numa forma delicada de abordagem financeira quando ele lhe entregou um cheque. Disfarçando sua surpresa enquanto ajeitava a saia preta na cintura, fingiu não dar importância. Quis passar a falsa impressão de que aquele pagamento era só um detalhe. Ele era um homem de classe. Na certa deve ter adivinhado a generosidade feminina e resolveu gratificá-la. Devia fazer isso em todas as outras aventuras. Conteve sua euforia quando leu rapidamente o valor escrito na folha assinada por ele e jogou em cima da cama, para acabar de se arrumar. Ele avisou que tinha chamado um taxi para ela e justificou o porque de terem de ir embora separados. A beijou pela última vez e fez um elogio de praxe para sua performance sexual e seus silicones espalhados pelo corpo. Marina deu de ombros e forjou um sorriso moderno de mulheres bem resolvidas que só existem nas telas de cinema.
Algumas horas depois chegou ao trabalho sob os olhares admirados e curiosos de suas colegas. Empinou o nariz e narrou os acontecimentos da noite para uma pequena platéia de súditas cheias de complexos de inferioridade estampados no rosto de cada uma. – A única vez que dei de graça, foi para um homem que não me quis. Agora cobro de todos os homens que não quero.- Determinava para si.
Planejava descontar o cheque na hora do almoço e comprar um vestido novo, quando um ofice boy entrou na loja com um buque de rosas vermelhas endereçadas a ela. Eram as mesmas rosas do teu sonho, porém o perfume era diferente. Ela sabia. Abraçou o presente e viu que tinha um envelope.

Ao abri-lo estranhou aquelas quinze notas de cem reais com um bilhete contendo a mensagem:
Sustei o cheque. Achei melhor. Ontem no meio daquela empolgação toda, esqueci de pagar a blusa que havia comprado. Como ela custou 1.480,00, pode ficar com o troco para ajudar na sua comissão.
Abraço
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2 comentários:

Hictor Vector Ackellem disse...

Gostei realmente, achei forte e legal, boa história para se ler.Agora é levar a máxima expressão ao limite da escrita e pode sim se tornar uma grande escritora...

Duda Bandit disse...

conto bacana, menina... você é boa de gatilho.