sábado, junho 30

Mais a tarde


Eu fico inventando mil coisas
pro meu coração bater diferente
Não sei se ando por aqui
Ou se prefiro as lições em tupi-guarani
Ontem a tarde bateu vontade
de pegar a estrada
e te encontrar no meio do caminho
pedindo carona para um lugar
nem tão comum assim
mas que a gente pudesse ficar
soprando as cinzas das horas
que ficamos sem nos falar
esquecer do tempo
que ficamos sem nos ver
e celebrar o encontro
que a vida deu pra gente
nunca mais se esquecer



Elisa

sexta-feira, junho 29

É nóis!!!!!!Êta vida boa demais!!!!




Lobisomen de cor, deusa da coragem

Iansã da loucura manda a tempestade pra beira do mar

Zé Limeira falou pra seguir viagem

Essa vida de artista, essa vida de artista, essa vida

Feiticeira do amor, preta da estalagem

Perguntava pra ver se o saci tem metade das pernas pro ar

Clementina falou que era sacanagem

Essa vida de artista, essa vida de artista, essa vida


OswaldoMontenegro
Salve!


quinta-feira, junho 28

Like a rolling...


Rolou como se a natureza estivesse distraída,
Sem o barulho das ondas do mar,
Sem o sino da capela tocar
Sem o testemunho das estrelas em noite de luar.
Rolou como se o romance fosse escrito num papel
das histórias de cordel.
Rolou sem o brilho de uma expectativa
do som de um telefonar
Rolou num momento
que nem se sabia que era poesia
Rolou como se o conto de fadas
acontecesse na hora errada
Rolou como a oitava acima do meu andar
Sem nenhuma trilha sonora conseqüente,
Rolou que o tempo fez o amor
e disse que era do tamanho da gente.


Elisa Carvalho

quarta-feira, junho 27

O "gato" comeu! - (ou a revolta das sintaxistas)


Onde é que foi parar a minha língua nas bocas tagarelas?
Prosa em Pessoa no plural, falta uma palavra da boa. Um autêntico aportuguesado.
Meu caso de amor é a amizade com o Aurélio que se abre para mim,
respondendo o que eu queria saber.
Substantivogrecolatim virou axésoteropolitano.
Surtaram a gramática por engano!
O sujeito é o verbo de ligação com a máfia se vem adjunto armado
metralhando a metáfora da pátria.
Dos filhos deste solo, a mãe gentil deixou colocarem Z no Brasil.
Se acha um poeta rabiscado até na poesia concreta.
E salve-se quem puder do futurismo.
Ai Hitler! Aqui e agora correndo nos campos de concentração
a raça seria exterminada gírias morreriam de inanição.
Fala-se pouco e pensa-se menos ainda
Roubaram as sílabas da memória do ôco...- Ae! Pá! Brou! Tal! Só! etc...

A morfologia é linda gente!!!
O intelecto sente fome quando só o macarrônico se come.
Ressuscitem com elixir de longa vida os imortais adormecidos e cronologicamente esquecidos.
Deu pane na neurosistêmica cadeira elétrica acadêmica.
Libertem o Paulo do comando vermelho que reprodu$ feito Coelho.
Autor de verso nada bobo, vai cifrar na vitrine da globo.
A filosofia do ditongo se aplica no fóssil do ócio deformado extintor de parágrafos.


Sete vidas tenho,
Mas Sete faces...somente Drummond. Salve!
Abaixo as pseudoclassescaricaturais
Deixe o meu, o seu, o nosso vocabulário
Assumidamente sair do armário
Que Mário?
O Quintana.
Fruto diferente e especial desta república que só nos dá bananas.
Tudo bem que descendemos dos macacos, mas abrasileirados somos filhos de Deus.
Miscigenados na panela de barro, plebeus não privilegiados com a Panela de Ferro.
Oxigenados, Siliconados, Mansueados, posicionados os adjetivos treinados
Para serem encaixados!


Sento para escrever e vejo lá no fundo da estante do meu escritório,
a aposentada Dona Olivetti que ganhei aos oito anos.
Quietinha e conformada com os avanços da tecnologia.
Minhas mãos não se aposentam...meus dedos não são cibernéticos;
antes de tudo, as ferramentas naturais da minha habitada e demográfica-mente, são os lápis e os papéis em branco que me recebem a qualquer hora do dia ou da noite.


E cadê o motivo? Onde foi parar?
Está nos prêmios não pagos, nas contas penduradas, na fama de reconhecida,
nas perdas irreparadas....
Ficou lá fora, junto com o mundo que distraí por uns momentos.
Aqui dentro, só o meu vício de linguagem.
Porque eu estou vestida
Com as armas de Jorge. Amado Salve!
Peço licença para chamar a inspiração
Ela não vem. Manda recado. Está de greve ou luto fechado.
Reivindicando novos pisos salariais para as minhas emoções.
Se esta rua fosse minha,
Eu mandava ladrilhar...só para ela passar.
Canto pontos, faço oferendas, rituais, tambores..
E nada.
Dou uma trégua.
Vou para a sala ligar a TV.
Sem reagir a tamanha afronta de minha fiel escudeira.
Shoptime? Controle nela.
Fala que eu te escuto? Controle nela.
Emudeci de repente.
O Jô!!! Achei!!!
Sentada em rede nacional
A bunda (que anatomicamente não uso) Deus me compensou com o cérebro, quando invento manias para substituí-las. E sempre dá certo.
Ela fala pra ele de sua trajetória METEórica na carreira...
- Capa da playboy...apartamento comprado....cachês pagos...contas pagas.
É a glória!! -
Meu QI sofre...eu o tenho é verdade, mas não no sentido Quem Indique.
Descontrole em mim...ela apareceu....
Me segura, que eu vou ter uma Estrofe!!!!


Elisa Carvalho
num verão de 2003






A toda grande deusa


À toda grande deusa mãe
detentora da magia milenar
protetora da natureza,
que traz consigo o segredo da vida
que gera,
perpetua no infinito
a consagrada missão do zelo
a toda criatura.
que por amor enfrenta as brumas do tempo
desafia obstáculos
sacrifica a própria essência
ao fazer o semelhante feliz.
guarda no livro dos encantos
cada página de poesia
sua luz de sacerdotiza.
sabedoria coroada pelas ondinas
seduz os obstáculos
e os transforma em grãos de areia
da praia que ela se banha.
seus mistérios, alquimias e artimanhas
fascinam o gosto por viver
somos nós assim
as amazonas guerreiras da virtude do saber
a todas nós, marias, madalenas, castas, amadas,
wiccas,isis,denominadas...
em nossas mãos o cheiro de jasmim colhido
nos campos das fadas,
é o mesmo que se transforma no metal
da espada que nos protege.
que não fere, mas defende
enobrece a luta.
enaltece o universo de nossa condição.
(e este meu deus, para quem dou tanto trabalho, sorriu.)
Pois sabia, que quando me criou
inaugurava o oitavo dia.

Elisa Carvalho

terça-feira, junho 26

Praga das Rimas


Dinheiro rima com trabalho,
trabalho rima com aquilo que muita gente faz
mas que nem sempre traz dinheiro.
Dinheiro rima com amigos,
amigos rimam com verdadeiro
mas nunca aparecem quando você está sem dinheiro.
Dinheiro rima com sucesso que rima com poder
mas que nem sempre rima com prazer.
Dinheiro rima com a mesquinhez que está em você
quando não se dá ao luxo de chutar o balde de vez em quando
e comprar uma passagem com seu dinheiro
para um destino inusitado
onde a aventura não custa nada.
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Elisa Carvalho



domingo, junho 24

Recado bem criado ao criador


A soma do quadrado do cateto
é igual a da tal hipotenusa
coisa de doido,
macular um fado,um soneto, uma oitava acima
arquitetura suada em nome
de uma rima
não é pra mim não
desejo de lábios ardendo
um sopro de pensamento,
un sin corazon.
Hoje tem sol,
amanhã acordo em bemol
peço aos deuses da ilusão
que essa coisa inquieta
não se acabe não...


Elisa Carvalho





Amigas/Série Infantil


Tininha tem os olhos puxadinhos
Mas não nasceu no Japão
Ela brinca de roda comigo,
De casinha e de pião.
Tininha é uma criança diferente
Mas é amiga da gente
Tininha tem síndrome de down
Mas pra mim isso é normal
Tininha empresta suas bonecas pra Cecília
Cecília não tem olhos puxadinhos,
Nem a pele branquinha como a de Tininha
Cecília não tem seu próprio quartinho
Dorme com seus oito irmãozinhos
Num pequeno barraquinho
Cecília também é uma criança diferente
Mas isso não importa pra gente.


Elisa Carvalho

Cantiguinha/Série Infantil



Eu já fui árvore
Da melhor fotossíntese
Um dia me mataram
Minha alma foi pro céu
Como fui muito boa lá na terra
Virei folha de papel


Elisa Carvalho

Revolução dos Bichos/Série Infantil


Estavam todos reunidos
Numa mesma floresta (a única que restava no planeta).
O papagaio não sabia nem o que falar.
Dona tartaruga, na testa criou uma ruga de preocupação.
De repente todos entristeceram.
Chorava o leão!
Nem parecia que tinha aquela força gigante,
num cantinho lamentava
o triste e fraco elefante.
A fauna toda se reunia,o jeito era ir morar debaixo da ponte.
- Poluiram meu rios! - Choramingava o rinoceronte.
A selva ia deixar saudade.
- Eu tenho medo de gente! – Avisava o urso.
- Eu tenho medo do bicho homem! – Dizia a dona girafa.
- Tiraram tudo da gente! Arrancaram as plantas. Construíram casas, prédios, palácios. Queimaram as nossas árvores – Gritava o macaco – Agora vamos pra cidade e armar nosso barraco.

quinta-feira, junho 21

Onde foi?/Série Infantil


Não existe mais bicho papão,
Nem mula sem cabeça,
Nem saci eu vi.
Nada mais existe na imaginação do menino
Só encontrei um chip, um controle remoto e um palavrão.
Que medo me deu!
O menino brincou sozinho
No seu quarto pequenino
E na hora de dormir
Ele apertou um botão.

Onde é que foi parar
A história simples de se contar?

Não existe mais chapeuzinho vermelho,
Nem castelo de princesa,
Nem Joãozinho e nem Maria
Nada mais existe na imaginação da menina
Só encontrei um chip, um controle remoto e um palavrão.
Que medo me deu!
A menina brinca sozinha
Em cima do tapete
Pinta a boneca com batom e pó de arroz
Põe salto alto nela
Ela quer crescer e virar modelo de passarela
E na hora de dormir
Ela dá off no computador.

Onde é que foi parar
A história simples de se contar?

Elisa Carvalho




O menino astronauta/ Série Infantil



O menino astronauta
Vive num planeta diferente
Ele não fala com a gente
Porque se acostumou
A falar só com as estrelas
O menino astronauta
Não sabe falar palavras, palavrinhas ou palavrão
Ele fica sentado sozinho
Pilotando seu avião
Sua mãezinha sabe
O quanto ele é especial
E seus irmãos também sabem
Eles amam o menino espacial.
O menino astronauta
Gosta de batata frita,
Gosta de sopa,
Gosta dos presentes que ganha do Papai Noel
O menino astronauta é tão puro
Que sempre parece que desce do céu.


Elisa Carvalho



























Cadê a marmelada?/Série Infantil


O palhaço dá mil piruetas no ar
Mas o menino não ri
O palhaço corre de lá, corre daqui
Mas o menino não tá nem aí.
Coitadinha da carinha do palhaço
Fica cheia de tinta vermelha
Branca e verde
Colorida de sorriso e gargalhada
Mas o menino não ri da piada
Ele vai pulando feito saltimbanco
Até bem perto do menino
Que continua nem aí
O palhaço dá um salto pra trás
Arregala os olhos com a cena que vê
O menino carente e com fome com a cara assustada
Pergunta:
Hoje não tem marmelada?
Hoje não tem marmelada?




Letra: Elisa Carvalho
Música: Wolney Rocha



Esboços

Rabisque numa folha, da árvore que você plantou, um esboço simples. Só teu,
pense nos amigos
que estarão ao seu lado
daqui a um ano,
mas também pense naqueles
que nunca deixará de lado,
pense naquelas manias
que você acha que são bobas,
e dos seus defeitos
não corra atrás
escreva na linha seguinte
a vantagem que ele te faz,
quantos amores você vai retratar
alguns estarão vividos
alguns você vai sobreviver
outros poderão nem chegar.
Daquelas palavras que você vai dizer
algumas nascerão para se calar.
Quantos segredos irão existir
e outros que você nem vai querer descobrir.
Escreva os sonhos no primeiro parágrafo
mas lembre-se daqueles que se foram para sempre.
Trace as mentiras que você repudia
e as verdades que você odeia,
lembre o nome de alguém em que não acreditas,
amanhã ele pode confiar em você.


Elisa Carvalho
Para Jean Grey






























quarta-feira, junho 20

Blues A2


Quando você explodia, eu também quebrava as correntes

que me prendiam os pés

me atavam as asas

muitas vezes passei batido ,na porta de sua casa
correndo pro tempo não me pegar

não sei se ia chegar

imagine o coração de carne e osso
ele passou rápido
e me deu um livro

contando sua história
uma caixa de pandora
esperando o mês de abril
tocar aqui
num velho toca discos de vinil

baby eu tenho que voar
não repare
mas a roda tá viva
não pode parar
na faixa dois
na faixa à dois....




Letra: Elisa Carvalho/Roberto Varela

terça-feira, junho 19

Meu poema


Meu poema não quer ser fútil
não quer calar-se
diante de fantasia inútil
não quer a medida certa
não quer estar em banca de oferta
Meu poema não quer estar na mídia
não quer ser exclusivo
nem ser bonzinho entre as rimas
Meu poema não quer ser só meu
não quer te dar as costas
não quer ser emaranhado de respostas
não quer ser vítima de um suspiro rouco
meu poema não lhe é pouco.



Elisa Carvalho

Letra de música

Segredos feitos no vapor
de longas horas aflitas-
não me diga -
me conte apenas o seu nome
que eu te dou meu telefone
Me embale na canção de sábado
que eu vestirei a sua roupa,
e vamos juntos pelas ruas de outono
dois lunáticos
sem dono
se está frio em meu epicentro
você me aquece
mesmo que de manhã
depois que a noite desaparece
a gente finja que se ama
e acontece...



Elisa Carvalho

(e não é que virou

mais uma música!)

segunda-feira, junho 18

Edaduas Saudade

Tempo que se fez
momentos que se fizeram auges
como os meus
os seus
os nossos
se fazem agora
algum dia
eles foram
o que somos hoje
e um dia seremos
eles
ontem
outros olhos
outros tempos
outros futuros
seremos pendurados a granel
num imenso painel
onde se contempla
sorrisos gris
e tantas outras
atitudes pueris
o beijo de amor
espalhado no batom non-sense
a mão cheia de pudor
suando frio
no decote que não se via
o ardente cálice de vinho
que sorviam poetas e vagabundos
que escreviam o tempo
e temiam o vento que trazia tempestade
hoje somos os únicos
amanhã seremos saudade.
Elisa Carvalho

Aquele que se foi, sem nunca ter partido.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou
.Em noites como esta tive-a em meus braços.


Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.


Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho.
Sentir que já a perdi.Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.

E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta.
Ao longe.A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro? Será de outro? Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

sábado, junho 16

SuBliMiNAreS


"...Eu já nem sei se eu tô misturando...

Eu perco o sono

Lembrando cada riso teu

Qualquer bandeira

Fechando e abrindo a geladeira

A noite inteira..."


Eu preciso dizer que te amo

(Dé/Bebel Gilberto/Cazuza*)






















Releituras- I

Dalí de Salvador
me atrevo a contar memórias num rascunho
zoando o descaso,
assino o acaso
de próprio punho.


EC

quarta-feira, junho 13

Aquela que se foi,sem nunca ter partido


...como se o tempo esperasse
ou se algo assim
permitisse que o retorno
fosse breve...
se pudesse te reencontrar
lá nos anos atrás
Eu ia te perguntar:
Por que esta noite você não veio me visitar?
EC


Para Clarice Lispector

Aquele que foi, sem nunca ter partido


...Quanta cachaça, quanta mesa no fim de tarde...
quanta música e letra absurda...quanto riso, ó quanta alegria
a gente fazendo poesia,
enquanto os mil palhaços brincavam no salão.

EC


Término de leiturade um livro de poemas
não pode ser o ponto final.
Também não pode sera pacatez burguesa do
ponto seguimento.
Meta desejável:alcançar o ponto de ebulição.
Morro e transformo-me.
Leitor, eu te reproponho a legenda de Goethe:
Morre e devém
Morre e transforma-te.

Waly Salomão
Poema: Devenir,Devir

Aquele que se foi, sem nunca ter partido



Torquato Neto.
Não me esperou
se adiantou demais,
tomou coragem
... se acovardou no deserto.


Mas te perdôo.
Encontro presente seu
em toda palavra que busco e
na tua saudade
que o tempo me ofereceu.

EC















Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina

Caetano Veloso -


(Em bom momento)

sábado, junho 9

Releituras - Vida e Morte - II


Minha história e esse nome que ainda carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus

Releituras - Vida e Morte - I


...Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré, Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
E não sei bem se por ironia ou se por amor


Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor...





SeRiA

fÁcil

o

Ser

IA

Ser

Fóssil O que

FossE


EC

quinta-feira, junho 7

Com ou sem Leminski


18 anos

sem pré ou pós

adolescência

18 anos

é a idade de sua ausência!


Poeta

Paulo Leminski

07 de junho - dia da sua falta

quarta-feira, junho 6

Sancta Lumen Naturae

Rebolante ao som do pagode que tocava no rádio, Gabriela colocava os móveis para cima para varrer o chão de sinteco da casa antiga. Morava com a mãe e o gato siamês Juca. Assim acontecia todas as sextas feiras quando chegava do colégio ao meio dia. Depois de tudo arrumado e perfumado, Gabriela se recolhia voluntariamente em seu quarto. A mãe, funcionária dos Correios, chegava do trabalho as 7 da noite e sorria de satisfação. Encontrava a filha falando ao telefone, escrevendo na agenda ou lendo a bíblia. Depois de um banho e uma cerveja, a mãe ia encontrar o namorado no forró. Era fim de semana e a hora era ilimitada. Gabriela quase não gostava de sair de casa. Não gostava de lugares com muita gente, a não ser a missa que fazia questão de não perder todos os sábados a noite. Não quis festa de quinze anos porque não queria muita badalação. Mas gostava de ganhar lembrancinhas. Faria dezessete na próxima semana e já planejava seu presente. A madrinha beata estranhava que a afilhada nunca havia dado qualquer tipo de preocupação familiar. Estranhava sua amizade solitária com Juliana, uma garota um ano mais nova que estudava com Gabriela, ao mesmo tempo sentia alívio pelo recato inusitado da adolescente. Sua afilhada era muito bonita. Alimentava indiretamente as fantasias sexuais clandestinas de Guilherminho, seu vizinho na vila de casas em que moravam desde pequenos. Todos os dias ele colocava o corpo adiposo na janela para ver ela passar com os cadernos nos braços. Ganhava um sorriso passageiro e um Olá. Isso era bastante para que ele fosse comemorar no banheiro com sua mão ofegante. Gabriela também chamava a atenção do futuro padrasto, um bancário quase aposentado que começou a namorar sua mãe quando ainda era casado. Há muitos anos ele não via seios tão perfeitos e durinhos. Tinha medo de que eles fossem parar em mãos erradas. Mas a enteada percebia seus olhares e sempre que podia evitava usar decotes ou ficar a vontade perto dele. No dia de seu aniversário, Gabriela ganhou um bolo surpresa da madrinha, um anel de ouro da mãe, o mesmo anel prometido há dois anos atrás, e um cheque de cem reais do futuro padrasto. Estavam todos reunidos informalmente na mesa da cozinha em volta do bolo com alguns refrigerantes e cervejas. Gabriela não queria cantar parabéns pra você antes de Juliana chegar. A mãe já começava a desconfiar desta cumplicidade. A madrinha achava que Juliana sabia de algum garoto que namorava a afilhada e o futuro padrasto estava inquieto ver a enteada tão decotada quanto aquela noite. Quando a amiga chegou, o primeiro pedaço de bolo foi pra ela, seguido de um discurso de agradecimento por ter mostrado a verdadeira vocação da aniversariante.
Gabriela comunicou a todos que estaria indo para um convento nos próximos dias.
Juliana sorriu. A mãe ficou estupefata com a decisão da filha, mas concordou. Ela estaria salva do mundo horrível e de homens aproveitadores que nem o pai dela foi. A madrinha beata arregalou os olhos e não conteve a euforia quando falou que sempre achou que a menina tinha um compromisso com Deus. O padrasto deu a palavra final, desejando boa sorte a Gabriela. Conviveria com a decepção de não apreciá-la nunca mais em trajes divinos como aquele que via em sua frente.
.
Gabriela e Juliana puderam enfim viver seu romance em paz. Dentro daquele imenso mosteiro, longe das maldades e preconceitos do mundo, foram felizes e se amaram por muitos e muitos anos.
Amém.


Elisa Carvalho

terça-feira, junho 5

Francisco, meu homem. De Holanda, meu poeta.


"Não se afobe não, que nada é pra já. O amor não tem pressa ele pode esperar em silêncio.
No fundo do armário, na posta-restante, milênios, milênios no ar...."

Futuros Amantes
Chico Buarque

Eu não poderia deixar de declarar aqui, toda minha admiração e amor por este grande artista, que parece que psicografou todas as minhas fases da vida.

Leia este atrevimento meu:

"Este moço
Encostou o ouvido
Na parede do meu coração.
Escutou tanta bagunça,
Ouviu meu amor falar
De uma certa canção
Que tocava naquela hora
Em que
Pegou seu violão
pra cantar minhas rimas,
colocando melodia nas minhas dores.
Este moço me abraça
E traça meu destino.
Traz consigo a senha
Da palavra secreta.
Francisco, meu homem
Buarque de Holanda, meu poeta."


Elisa Carvalho

(Rio - 2006- enquanto via, de queixo caído, ele caminhar elegantemente no calçadão do Leblon)

Santa Casa de Misericórdia


Enfio minha língua no silêncio
Quando a angústia vem rondar minha casa
E meu medo senta na varanda
Junto com os demônios confusos
Que cismam em atravancar meu norte
Eles brindam e conversam noite adentro
E eu fico na espreita
Olhando pela fresta da janela
Jogando sal grosso e incenso de cheiro bom
Quando eles se cansam
E eu já exausta de espera
Adormecem ao meu lado na cama
Meu medo cheira meus cabelos pintados , Faz cafuné nas mechas que deixo cair no rosto .
Com a delicadeza dos sádicos, me diz ser necessário.
E pede que eu não o mate,
Porque ele sabe que vai morrer
antes de mim.
Elisa Carvalho
(Curitiba/2007)

Acordes

O homem velho faz sentinela
Jaz dentro dele a esperança
O tempo não aceita fiança
Para suas neuroses e cataclismas
Passou a doçura de uma nesga de luar
Dentro de seu pensamento particular
Lá atrás
Era o aroma da massa de pão entrando no forno,
A tia chamando pro mingau da manhã
E a mãe cozendo as mangas da camisa.
O que roubava teu sono
Era a falta de sonho.


Elisa Carvalho

Outra forma de poema

Quero ainda encontrar
Uma casa mal-assombrada
Cheia de folhas outonais em sua entrada.
Mobiliada com relíquias abandonadas nos cômodos.
Com tanta lei mesquinha
Quem vai assumir que tem uma réstia de consciência útil?
Há tanto solitária
Haviam esquecido de exorcizar
As lembranças de dias não vividos lá dentro
Mas não há força invisível suficiente que resista ao perdão.
Contemporâneos plasmam os tardios desencontros.
E entre as teias das imedrosas aranhas
Haveria de estar escondido
O mais secreto dos tesouros
Um sarcófago em forma de baú
Contendo missivas sem remetentes
Apenas frases inocentes
Pérolas jogadas aos porcos do esquecimento.
E quem passasse na rua veria
Uma claridade inédita lá dentro
Era o amor espantando os aprisionados fantasmas
Que seriam transformados em almas novamente
Completando o ciclo da eternidade
E a casa agora seria
Atração principal da cidade
Apesar de seus mortos ainda existirem
Na penumbra dos amantes.

Elisa Carvalho
(Curitiba-2007)

segunda-feira, junho 4

Ode aos Ratos



rato de rua, irrequieta criatura
tribo em frenética proliferação
lúbrico, libidinoso transeunte
boca de estômago atrás do seu quinhão
vão aos magotes a dar com um pau levando o terror
do parking ao living, do shopping center ao léu
do cano de esgoto pró topo do arranha-céu
rato de rua, aborígene do lodo
fuça gelada, couraça de sabão
quase risonho profanador de tumba
sobrevivente à chacina e à lei do cão

saqueador da metrópole, tenaz roedor
de toda esperança estuporador da ilusão
ó meu semelhante, filho de Deus, meu irmão

rato rato que rói a roupa
que rói a rapa do rei do morro
que rói a roda do carro
que rói o carro, que rói o ferro
que rói o barro, rói o morro
rato que rói o ratora-rato,
ra-rato roto que ri do roto
que rói o farrapodo esfarra-rapado
que mete a ripa, arranca rabo
rato ruim rato que rói a rosa
rói o riso da moça e ruma rua arriba em sua rota de rato—


Chico Buarque, "Ode aos Ratos" (in "Carioca", Biscoito Fino 2006)

Ante a escuridão da maçã


Entre os dedos escorrem músculos e máculas recentes
morro tanto um pouco em um dia quando a saudade aperta o nó na garganta.
É tão quase incomun desafiar o mito de existir.
Reuno as líricas todas em uma fruteira e as devoro,
ávida de sabor
eu as quero trituradas aqui dentro.
Estou vestida com roupas de altar e ventre
a água tem cheiro de igarapé.

Esta fome é fonte de incessantes alvíssaras minhas e depois tuas.
Eu é que semeio, cuido, planto e colho na estação certa
distribuo ao vento,
canto aos pássaros
quase nada é lamento
assim renasço tanto um pouco
em um dia.

Elisa Carvalho
(Curitiba/2007)

domingo, junho 3

Pra ver Deus


Domingo eu subia o morrinho para ir à igreja.

Domingo era dia de botar roupa diferente

para encontrar outras pessoas diferentes

com um único propósito.

Osermão era sempre o mesmo.

Eu reparava era nos tecidos,

nos cortes impecáveis,

nos saltos altos e modelos novos.

Era fashion se redimir.

Ainda é?

Todos os olhares voltados em direção ao padre.

Atrás dele uma cruz enorme.

E o corpo do Cristo de olhos fechados não via nada disso.

Só eu.


Elisa Carvalho

(há muito tempo atrás,

mas não tão distante assim)

Mutucurumbá


Mutucurumbá. Foi por causa desta palavra que levou bronca do pai na hora da janta. A mãe, que quase nunca dizia nada, mandou o filho pro quarto sem que ele pudesse terminar a refeição. Mais tarde levaria bolo com leite sem que o ninguém visse, pois tinha que mostrar concordância com o marido.-A senhora dá muita colher de chá pra esse menino. Deixa ele a solta de dia se misturando com os negrinhos da fazenda. Não quero saber de língua de preto aqui dentro de casa. - Ordenava ele mastigando um pedaço de carne na boca que deixava a gordura escorrer pela barba grisalha.

O menino olhava pela janela as luzes fracas dos lampiões que vinham lá da senzala. Teve vontade de fugir e ir pra lá ouvir as histórias que os pretos velhos contavam. Chovia muito. Ensaiou até vestir um paletó grosso para se proteger, mas desistiu da idéia quando lembrou da última surra que levara do pai. O capataz da fazenda havia o pego em flagrante brincando de cruzamento com a filha da escrava Nica e o delatara ao patrão.

Deitou-se na cama quente e Mutucurumbá ainda ecoava em seus pensamentos. A palavra martelava sua curiosidade.Não conseguiria pegar no sono. Estava preso à informação não saciada.

Lá dentro da senzala os exaustos escravos dormiam sob o peso do cansaço, mas serenamente sonhavam com a liberdade conquistada em Mutucurumbá.


Elisa Carvalho

O cliente especial



Marina morena Marina virou-se de lado. Com a cabeça no travesseiro sonhava com o dia do sim. Vestida branco, entrava pela igreja acompanhada por um coro entoando a marcha nupcial. Pétalas de rosas vermelhas caiam sobre seu caminho. Via a mão do homem do teu sonho colocar a aliança na sua mão esquerda. Acordou com outro homem, que não era o do teu sonho, passando os dedos na sua nuca. Estava na hora de irem embora. O dia estava quase amanhecendo. Marina sentia a boca pesar num gosto acridoce. Sentou-se na cama procurando suas roupas espalhadas com o olhar sonâmbulo. Um silêncio constrangedor pairou sobre os dois naquele momento. Ele já estava vestido e de banho tomado, cheirava a eucalipto. Aqueles sabonetes baratos de motel eram sempre os mesmos. Mais pareciam desinfetantes propositais do que perfumes. Enquanto se vestia pensava num lapso quase fatal que cometera. Não havia combinado o preço para esta transa. Marina nunca dava de graça. Não era feito aquelas piranhas de estrada e botequim de caminhoneiros, que ganhavam uma miséria para agüentar aqueles paus fedorentos em seus pedaços de corpos. Ela tinha requinte. Trabalhava como gerente numa loja de roupas finas para pessoas com altíssimo poder aquisitivo. Ele havia ido lá para comprar uma blusa para sua esposa. Diante da visão apolínea de tal cliente, Marina atropelou as vendedoras que o rodeavam de cortesias e cafés e deu-lhe pessoalmente atendimento vip. Conversaram o suficiente para que ela consentisse que ele a pegasse no fim do expediente para um drink. Assim aconteceu. Foram para um bar na cidade vizinha e outra vez se entusiasmaram o suficiente para que ambos se permitissem terminar a noite no motel.
Pensava numa forma delicada de abordagem financeira quando ele lhe entregou um cheque. Disfarçando sua surpresa enquanto ajeitava a saia preta na cintura, fingiu não dar importância. Quis passar a falsa impressão de que aquele pagamento era só um detalhe. Ele era um homem de classe. Na certa deve ter adivinhado a generosidade feminina e resolveu gratificá-la. Devia fazer isso em todas as outras aventuras. Conteve sua euforia quando leu rapidamente o valor escrito na folha assinada por ele e jogou em cima da cama, para acabar de se arrumar. Ele avisou que tinha chamado um taxi para ela e justificou o porque de terem de ir embora separados. A beijou pela última vez e fez um elogio de praxe para sua performance sexual e seus silicones espalhados pelo corpo. Marina deu de ombros e forjou um sorriso moderno de mulheres bem resolvidas que só existem nas telas de cinema.
Algumas horas depois chegou ao trabalho sob os olhares admirados e curiosos de suas colegas. Empinou o nariz e narrou os acontecimentos da noite para uma pequena platéia de súditas cheias de complexos de inferioridade estampados no rosto de cada uma. – A única vez que dei de graça, foi para um homem que não me quis. Agora cobro de todos os homens que não quero.- Determinava para si.
Planejava descontar o cheque na hora do almoço e comprar um vestido novo, quando um ofice boy entrou na loja com um buque de rosas vermelhas endereçadas a ela. Eram as mesmas rosas do teu sonho, porém o perfume era diferente. Ela sabia. Abraçou o presente e viu que tinha um envelope.

Ao abri-lo estranhou aquelas quinze notas de cem reais com um bilhete contendo a mensagem:
Sustei o cheque. Achei melhor. Ontem no meio daquela empolgação toda, esqueci de pagar a blusa que havia comprado. Como ela custou 1.480,00, pode ficar com o troco para ajudar na sua comissão.
Abraço
.













Os amantes de Graça

Cena: 1


Tito, eu tenho um amante!
Tá bom minha filha. Tá. – Concordou o marido sem tirar os olhos da televisão.
Ele virá hoje de novo. -
Tá bom. Mas deixa eu acabar de assistir o jogo.
Graça colocou-se na frente dele. Tito irritou-se.
- Vá pro quarto. As janelas estão abertas e os vizinhos podem ver você pelada. Sai daqui por favor. Mais tarde faço teu suco de laranja. Agora vá lá pra dentro.
A mulher abaixou a cabeça e saiu em silêncio. Havia quinze anos que estavam casados. Tito a conhecia desde pequena. Brincavam inocentemente juntos quando ele ia para Tiribiçá, a cidade de sua família , passar as férias. Graça era a mais bonita e disputada. Seu recato forçado pelos pais a fez adotar um comportamento eremita na maioria das vezes. Nunca saia de casa sozinha. Não tinha uma amiga sequer.
Não ia a festas e bailes. Ia a igreja aos domingos e as quermesses. Sempre de braço dado com sua mãe e seu pai. Sua virtude e donzelice era sempre defendida e vigiada por eles. Aos dezoito anos começou a dar aulas para as crianças do lugar.
Tito escolheu Graça para se casar depois de muito aproveitamento na vida. Aos trinta anos já rendera-se a muitas gandaias e não quis que qualquer mulher fosse eleita para as sossegarias de sua vida. As da cidade estavam adiantadas demais e ele queria menos compromisso com os diálogos intermináveis.
Casaram-se seis meses depois do pedido oficial. Graça já tinha uma certa familiaridade com seu rosto e pelo que ficava sabendo por seus pais. Viajou vestida de noiva para São Paulo. Tito a pegou no colo para levá-la até o quarto da nova casa espaçosa que dividiriam juntos. A mulher não precisaria mais trabalhar fora. Fizeram alguns amigos no clube. Recebiam alguns deles nos aniversários e vice versa. Tinham uma vida comum. Sem traições, novidades e surpresas. As férias do marido eram sempre rumo a Tiribiçá para rever sempre os mesmos lugares e parentes. Não tiveram filhos. Graça tinha o útero seco e Tito tinha algumas seqüelas das doenças venéreas que adquiriu por descuido da virilidade incessante. Uma noite achou-se frígida. Seguiram-se outras e outras noites, tomou nojo do marido descansado e conformado demais. Até que surtou.
Tito desligou a televisão e foi para cozinha. Espremeu algumas laranjas e misturou três tipos de remédios diferentes no suco. Vestiu um jaleco branco e entrou no quarto da mulher.
Olá. Como está minha paciente preferida?
Estou bem. Trouxe meu suco?
Sim. Beba devagar.
Doutor eu tenho que te contar uma coisa.
Conte.
Ontem eu transei com o carteiro, mas não gostei. Hoje a noite o padre vem me visitar.
O padre?
É sim. Mas não conte nada a meu marido. Se não eu me aborreço.
Não vou contar. Agora durma bem. Boa Noite.
Boa Noite.
Saiu com o copo vazio na mão. Entrou no quarto dos fundos e abriu o guarda roupa. Não tinha nenhuma fantasia que combinasse com o traje em questão. Vestiu uma blusa preta e uma calça preta. Era a cor que mais se aproximava com o desejo de Graça. Trancou a porta por fora e deu a volta pela casa. Abriu a janela do quarto da mulher e pulou.


- Quem está ai? É o padre Gildo?
- Sim.
- Ela abriu as pernas e sussurrou:
- Venha padre. Quero me confessar.

Ele deitou-se na cama e começou a acariciá-la fortemente. Faria de tudo para que os pecados dela fossem perdoados e os seus compreendidos.


Elisa Carvalho