segunda-feira, agosto 20

Rebeldia


Quando te vi, briguei com Deus
Por que logo agora, ele te fez meu?
Rasguei o papel, escondi as canetas,
Fiquei orfã de palavras,
Só tinha aversão e defeitos
Pra tanta perfeição mal resolvida.
Fiquei de mal com a lua,
Despedi o sol.
Anarquisei o divã.
Só agora?
Minha alma sabe o perigo,
O castigo que é tê-lo como amigo,
E que não, nunca,
Jamais brigará comigo.
Jamais dirá: estou contigo.
Não ouvirei: pra jantar te levarei.
Nem rimas, nem carne e alegria,
Somente dúvidas e elegia.
Mas por que?
Não ser tua alma gêmea num feroz ataque de fêmea?
Não ficar nua e dizer que sou tua?
Só pode ser um auto de infração este desejo natimorto.
Como é que vai ficar agora esta paisagem em meu porto?
E a cama molhada de mel
Sem a gente?
E a janta ainda está pra ser feita,
O café, o leite, o pão de cada dia
No fantástico exercício da rotina.
Sonho acordada de ti,
Desaguando em meus afluentes,
Me passando pano e papilos quentes.
E eu, morna que sou,
Faço sinais de paz com Deus de novo.
Acho que agora quem sabe,
Ele fica ao meu lado e eu ao teu,
Quando pelo menos
Fritarei um ovo.
E entre mexidas, frituras e sais,
Na risada descontente eu perguntarei:
Por que não mais?


Elisa Carvalho

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