segunda-feira, agosto 20

A metafísica do objeto direto


Acendeu a luz no meio da noite e brincou de possuir.

Inquieta e múltipla, não pediu licença nem reservou mesa.

Não perguntou se a rima estava acesa,

se o perigo estava rondando a casa,

ela não tem vigia, níveis de segurança, alarme.

Não avisa.

Entra sorrateiramente no território do senso estético do querer,

que o radar não identifica suas forças amadas,

armadas até os dentes.


Sua tenda se enche de vapores

Numa tentativa lúdica de exorcizar

o possível futuro abalo sísmico de seus anseios,

suas entregas, seus pudores sem regras.

Mas teima assim mesmo.


E a outra, para desvencilhar-se da cerimônia intimista

da escalação do elenco principal

que vai atuar em mais um capítulo desta história, reluta.

Mas a pulsação insiste.

Tem seu objetivo, sua vocação predestinada

que não dá crédito as suas fugas.

Fica de sentinela.

Simula uma demissão, se candidata ao exílio voluntário, faz pirraça...

Mas é tudo em vão.


Vencida,

dilui-se no azul oceânico, e o continente de terra firme

vai ficando cada vez mais longe até se perder de vista.

Mergulha fundo,

com a habilidade e astúcia de escafandrista,

ela já está na órbita de outro mundo;

Pousa, coloniza, fixa bandeira,

passeia por seus dias,

classifica as fronteiras,

derruba os mitos,

explora o solo,

fertiliza.

De alma lavada, clareia os horizontes.

Sua coragem agora é criada na fonte.

Agora é forte.


Escreve por fim,a letra sensível que toma forma

na forma de um verso torto.

Feito em uma viagem de retorno possível,

ela sabe.

Que não,

nunca será perecível.


Elisa Carvalho



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