quarta-feira, junho 30

Prado de Adélia



Não quero os gritos
sufocados no corpo
dentro das masmorras dos castelos
das loucuras de Ofélia.
Quero o manso colo
que me acolhe nos versos
campos Prados
da liberdade de Adélia.

EC

Para ler com o descobrimento

Sinto a pena endurecida em dias de estio intenso
dias de castigo para o chão sem água penetrando
virgem me sinto sem o assédio daquela palavra,
entro de sola nas taquicardias de um verso fecundando.
Ontem senti o desamparo de saber-se só,
a manada passou sem nenhuma cerimônia
e quase leva o novilho em redemoinho junto
afogando suas patas neste turbilhão de andanças.
Mas meu pedido vem em forma de oração
e não há semi deus nenhum que interfira,
é no altar que coloquei nossa comunhão.
Eu sem rédeas, sem pudores
sem disposição para alimentar os rancores.
Atravessando o deserto da cozinha até a sala
procurando caminho do entendimento
de ser diferente porque sei em quem não pisar;
o silêncio me convidou a enxugar os olhos
quando a minha varanda mostrou
que nela estava uma solitária flor
vencendo os limites de uma porção de terra
dentro de um vaso de plástico
ela insistiu em ser natureza
assim que a vi desabrochar.

EC

Este poema é para minha mais nova inquilina, que batizei de Olinda,
a flor de maio que acabou de chegar aqui.

Escolhidos

Eu tinha opções lá naquela tarde de terça feira,

Onde o abre-alas cantava na chuva fina do verão de carnaval,

Uma série de tarefas a fazer, veio logo me visitar, enquanto chorava o primeiro engasgo de sopro de ar estreando naquela sala de parto.

Dizem que as rezadeiras passaram na rua depois do bloco.

Não sei se a oração subiu até aquele andar, mas o milagre existiu naquela urgência.

Quando veio o manto da sensibilidade para embalar o processo humano de

toda neo-existência, eu senti aquela proteção ali bem pertinho de mim.

Como se as impurezas futuras estivessem fora de foco.

Mais tarde fui percebendo as dores do mundo

aqueles dissabores profundos que levam o ser humano a se ajoelhar

e se sentir oprimido diante de uma grandeza que nem sei medir.

Mas se o sofrer engrandece porque então se diminuir?

É o presente fato de novo

Dos revezes mal percebidos;



Ontem vi a minha vizinha sair de casa pra ir morar numa comunidade

Hare crisna.

Vou esperar ela voltar porque receita de bolinhos de espinafres ela sabe

fazer como ninguém.

E alguma coisa iluminava nossos pratos ao preparo em volta do fogão.

Escolhemos saber cozinhar e nos reunir.



E quando a saudade dela bater, eu vou abrir nosso caderno de receitas.

assim só eu poderei alimentar a expectativa de uma volta.



Tem gente que escolhe ser saudade ausente

Outros decidem seguir um atalho mais rápido pra chegar ao não sei onde.

Mas aquele engasgo lá atrás me vitimou a ser acolhedora.

As vezes entro numa caverna onde toda claridade some,

e o breu se convida a ser meu guia.

Ando por ela todinha e depois saio de lá com os olhos mais apurados.



Alguns se resolvem numa travessia,

Outros querem estender a passagem toda se remoendo.

Eu escolhi caminhar a passos pequenos,

Que seja assim minha escolha na vida

Porque escrever é minha alavanca,

que me dá forças pra tocar as manadas de pedras,

Fazendo-me entender e alcançar o verbo: palavra!





EC

quarta-feira, junho 23

No long time...


Era uma tarde bobinha e já com muito azul escurecido.
Mas a gente tava lá. Os violões nas mãos dos meninos e "uomanocrai" sendo tocado
a revelia, o som saia despretensioso porque a letra já estava em nossa cabeça.
Um recanto inocente na serra, e cada um  com a garrafa em uma mão e na outra, a outra mão do colega do lado.
E a gente dançava o ócio ocupado com a já longinqua puberdade, beijar não tinha tantos efeitos colaterais.
Não me lembro de ter preocupação com a neura do vizinho de cachimbo.
Não me recordo de nenhum de nós incomodados com a arrogância do fulano que ali estava.
O egoismo nem era tão assim explicitado.
Hoje vejo estes noviços, com tanta pele lisa e já enrugada pela prepotência e preconceito
parece que o olhar é faca cravada no peito dizendo: não respire antes que eu te congele.
Não sei por onde andam mais os carinhos e os passos largos da amizade.
Só sei que,
sentar numa roda de viola com a versão do gilberto gil,
dá saudade
subir de mochila nas costas
acordar no meio do mato fumando maconha de marombeiro
é lembrança que dói até a eternidade
é cachaça de uma falta
que não passa...
não passárgada..

sexta-feira, junho 11

Depois de uma noite iluminada
na companhia do mel de clara,
atravesso a Av. Brasil cheia de acidentes
e percurssos sonolentos.
Acordo no abraço amigo de meu hermano Andreas.
Entre falas, idiomas confundidos e missões apreensivas
caminhamos até o IML.
Fotos, sustos e alívios por não encontrarmos o que a dona hipótese sugeria. Zero pra ela.
As pessoas não deveriam ir a igreja com tanta frequencia pra rezar para seus santos
pensando estar eles com balde e vassoura para lavar suas consciências.

As pessoas deviam ir visitar o Instituto Médico Legal de vez em quando.
Só pra ver seus semelhantes em estado de putrefação,
mortos e ignorados. Sendo prestes a serem enterrados juntos com todo o estilo de vida
que levaram um dia. Só pra sentirem o fim que TODOS nós teremos.
Verem a carne se desmanchar, cheirar mal, o olhar se decompor.
(Já vi seres vivos também em total estado de sentimento terror.)

Se esta visita fosse mensal, só pra ter a certeza de que não vale a pena
ser minúsculo, ser mesquinho e arrogante
aprenderíamos com eles que o inevitável é único.
Não perderíamos tempo com discrepâncias e maldades.
Não nos prenderíamos a sermos causadores de pequenas infelicidades.
Não adianta,
é tudo o mesmo destino do pó.

Inícios

Quando decidi amar aquelas crianças, foi difícil. Enquanto atravessava o corredor daquele imenso hospital perguntas várias me atravessam. Até com médica me confundiram. Devem ter visto minha anja da guarda que é uma doçura de espírito socorrista sempre ao meu lado. Recebo abraços, beijos e carinhos imprimindo a eternidade neste momento que resolvo melhorar por dentro. Depois as deixo no leito e vou doar abraços, carinhos e beijos nas mães. Fim do dia, começo de um novo ciclo. Entro no carro e Lui me pergunta se estou bem. Bem pronta pra não chorar ainda. Quero ver até onde posso ir. Chegar, buscar e conseguir.
Quando decidi não deixar aquelas crianças, foi fácil.

Rio, pré inverno de um coração solar