terça-feira, julho 10

Livros,webs e alguns esquecimentos


No fim do verão fui parar lá pras bandas do vale do Jequitinhonha na companhia de um amigo poeta, com a finalidade bem remunerada de escrever um roteiro para seu curta e conhecer a cidade onde ele passara a infância. No caminho, suas histórias dos tempos de criança ajudavam a suportar o calor violento dentro do carro.
20 horas depois de partirmos do Rio de Janeiro, chegamos à pequena Araçuaí. Mal nos acomodamos na pequena casa da família e já fui chamada para conhecer a cidade. Minas é Minas, não tem como negar sua pureza hospitaleira. Fui na escola onde ele havia estudado. Sua antiga professora o recebeu com festa. Mostrou a pequena escola e a biblioteca onde ele passava a metade do tempo no período das aulas. Só que ele não ia lá para ler, ele ia para namorar; entregou ela.
Ouvi duras críticas por parte do meu amigo que percebeu que a biblioteca abrigava orgulhosamente dez computadores de última geração e ele temia que os livros fossem esquecidos de vez pelas crianças. A boa senhora começou uma argumentação interminável com ele, aproveitei para me afastar de fininho pois de nada ia adiantar minha participação naquele diálogo idealista, e fui caminhar pelos arredores da escola. Um vento puro de pomar reinava calmamente. Comecei a observar as árvores que ali estavam imponentes e silenciosas fazendo nobre recepção para minha fuga daquela discussão banal que não ia dar em nada. Pensei em voltar lá dentro e encerrar a conversa dizendo a eles que sou a favor sim, da revolução tecnológica. Os livros estão ai mesmo para serem dizimados pelo esquecimento. Qual o problema em estudar pelo computador? Nenhum. Quantas árvores daquelas que vi, foram sacrificadas para virarem folhas de papel sem nenhum resultado? Muitas. Quantos escritores bons estão esquecidos pelas editoras? Vários, mas através da internet pode-se ler muita coisa de qualidade. Já vi salas lotadas de livros didáticos e romances, estragados pelo descaso da rede pública. Quanto sacrifício em vão. Quanta árvore assassinada a toa. E o oxigênio vai se esgotando no planeta.
Quis levantar essa polêmica em defesa ecológica, mas preferi silenciar. Em tempos de aquecimento global, se publicar um livro é atestado de capacidade intelectual e sinônimo de conhecimento e prestígio, prefiro ficar no anonimato virtual e esperar que a inclusão digital faça o resto. Quero mesmo é descansar à sombra de uma árvore e continuar escrevendo para leitores e não para publicar um livro.
Voltei para a biblioteca e eles já estavam em paz tomando cafezinho. O assunto já havia mudado de rumo e caído no esquecimento.

Elisa Carvalho

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