Vamos escrever esta história e esperar que as flores cheguem
Antes, durante e depois.
Eu te amo e nós dois?
Antes, durante e depois.
Eu te amo e nós dois?
Eu te amo e agora?
Sei que a paixão não tem hora e o tesão nunca demora
Pois o imperativo biológico supera as teorias científicas
Das bobagens esquisitas que ficam do lado de fora.
Carrego uma aventura genética, que deixa em dúvida
A ditadura da estética.
A boca quer a língua passeando
Sem saber como, onde e quando.
Eu te amo, com a química imodesta
Dos hormônios em eterna festa, ouvindo música erudita
Este sentimento faz milagres, acredita?
Eu te amo com o desafio dos neurocientistas, sociólogos e historiadores
Que não passam de filósofos amadores, a passar o tempo codificando o DNA
Dos impulsos codificados pela lógica
E ela (a tal da lógica) não tá nem ai,
Nem pra você e nem pra mim em nenhuma época do ano;
Não a encontrei quando descobri que possivelmente te amo.
(A Vênus distraída fugiu de casa, pegou o trem e foi parar no Nepal),
fugindo das academias, dos bíceps largos e bonitinhos infláveis.
Ela, volúpia e mente meditam nas altas colinas
E tocando as estrelas a olho nu, hoje faz amor com seu guru.)
Eu te amo bem no espaço universal em que cabe a minha poesia
Depois de uns goles a mais de água mineral,
Há o que se considerar na sobriedade, somente depois é que sobra a idade
Com altos padrões e teor de maturidade: é linda minha cara metade,
É igual minha alma gêmea. Meu masculino é fêmea.
Eu te amo com a força de quem agüenta as pontas, quando chegarem as contas;
Vestida de sal, despida de fatal, talhada no real e na tolerância dos dias confusos.
Eu te amo com as localizadas gordurinhas em fase de extinção
(elas fazem mal ao meu coração e não ao seu tesão),
com as pálpebras estreitas que não tenho, com corretivo nas olheiras
todas as compensações a que tenho direito mais os nativos truques que tenho na bagagem.
Eu te amo sem silicone no peito, tem coragem?
Eu te amo sem as síndromes explicadas pela medicina, com o desejo pelo desejo de se ficar,
Sem medo da impermanência, apesar de acreditar nos avanços da ciência, para esta possibilidade ser solucionada de uma vez por todas: Abaixo a carência!
Eu te amo com as mãos cheias de esmalte clarinho nas unhas,
Caminhando contigo naquela praia que tem o por-de-sol pintado
No quadro da sala do ginecologista regular.
Com o cheiro do tempero que fiz para agradar, o doce sem açúcar não importa,
Mas é com afeto, o Chico sabe do meu querer predileto.
Eu te amo ressuscitando tudo o que é brega e não sei,
Vendo as rosas vermelhas virarem pétalas na cama, e a sidra na taça de vinho
(de etílicos também nada sei).
Seu corpo dizer que está em chamas, na única vaga do motel
Ouvir a música que não canto e para meu espanto; escutar também que irei ao céu.
Eu te amo e agora?
Fisicamente a matéria se decompõe
Eu não quero dinheiro, eu só quero amar.
Eu te amo sem overdoses de epístolas deslumbradas de um gostar transbordando
(pecar por excesso, mas jamais sufocando).
Amo porque o instinto é animal de estimação,
Válido enquanto durar a canção que está em primeiro lugar das paradas de sucesso,
Enquanto nascem estas palavras filhas de meu cruzamento com a inspiração.
Eu te amo com o processo de alimento, como quem faz o poema nutrição,
Não só para a alma, mas também das pernas.
Eu te amo e agora?
As sentenças são eternas, assim como o diamante, por precioso e cintilante
Eu te amo tanto
Quanto antes.
Elisa Carvalho
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