domingo, setembro 2

Medos




O cara não tinha pedigree


Tomava cachaça depois do trabalho.


O trabalho não era tão ruim assim


mas o cara, depois da quinta dose,


deixava os respingos na barba


provando que era macho


o suficiente para esbravejar contra


o salário e o aumento


que nunca vinha.


Depois ia pra casa


comia feito porco,


arrotava em frente a televisão.


Abria uma cerveja


entupia-se de tédio e suor.


Não tomava banho antes de acordar na manhã seguinte.




Ela chegava em casa e o encontrava.


Havia espalhado para as amigas


que estava morando com um cara.


Quarto casamento. Não sabia viver sozinha. Mas não admitia.


Queria continuação da mesma anti-novidade.


Tinha que ter o lado B, tocando no play.


Senão ia servir de assunto pros outros


queria chamar as amigas de invejosas


porque elas não conseguiam um namorado,


um companheiro, um marido ou, na pior das hipóteses


um macho.




Ela


queria alguém


só não queria


saber quem.




Elisa Carvalho








Um comentário:

Alexandre Spinelli Ferreira disse...

Muito bom, Elisa...
Lembrei de "Com Açúcar Com Afeto" do Chico...
Beijo...
Parabéns!