sexta-feira, agosto 20

O Valioso Tempos dos Maduros

Contei meus anos e descobri q terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que presente.

Sinto-me como aquele menino q ganhou uma bacia de jabuticaba. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias q não fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge da sua mortalidade...

Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essêncial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essêncial...

Mário de Andrade

segunda-feira, agosto 16

Frag-Mentais

Quando era pequena observava
o estranho fantástico mundo da gente grande

e no meio dele, tinha a minha vizinha

que ria quando eu falava dos meus amigos invisíveis.

Mas enquanto eu brincava com eles

observava também o imaginário dela

que sempre esperava seu noivo voltar de viagem

e ele nunca mais apareceu.

EC

quinta-feira, agosto 12

Aconteceu comigo. E se fosse contigo?

- Hey....moça...onde é que você vai?
- Eu?
- Tá saindo e levando o livro também?-  Ele se aproximou e segurou meu braço com ausência delicada de abordagem.
- O senhor pode largar meu braço. Que isso?
- Este livro ai...eu vi você saindo da loja com ele e abrindo a bolsa. - Falava alto e atraia olhares das pessoas.
- O senhor pode largar meu braço que te explico.
- Então devolve o livro.
- Claro que não. É meu. Eu paguei por ele agora. - Respondi desvencilhando-me do segurança.
- Tá bom...sei...Ô "fulano"..chama o gerente lá. - E mais gente ao redor parava sua vida e olhava aquela cena.

O outro segurança em questão de segundos apareceu com o gerente. Um homem franzino, mas com olhar truculento.
- O que foi? - Perguntou o gerente da tão grande loja.
- Esta moça está saindo da loja sem pagar.
- Eu saindo sem pagar? Claro que não eu...
- To de olho daqui ó...tava abrindo a bolsa e colocando o livro dentro. Aqui na minha cara mesmo.
Mais gente chegando.
- A senhora por favor me acompanhe.- ordenou o gerente sem saber o que eu tinha pra dizer.
- Eu não vou acompanhar ninguém. Posso explicar?
- Lá dentro.
Minha paciência cultivada por horas intermináveis de meditação, pediu licença pra sair daquele recinto.
Aproveitei a platéia. Lotada já. Umas vinte pessoas assistiam aquele espetáculo de equívocos.
- Acontece senhores - falei alto mesmo - que eu fui pagar este livro no caixa e a moça estava colocando ele dentro de uma
sacola plástica e eu disse que não precisava de sacola plástica pra não desperdiçar o pouco de integridade que ainda resta na natureza, minha bolsa é grande. Então ela me disse pra levar a notinha.- Claro que sim!
Ali mesmo peguei a notinha que tá aqui, levantei a mão e mostrei pro gerente, e vim caminhando até a saída e guardando o livro dentro da minha bolsa. Foi quando este senhor me interrompeu.

O gerente olhou a notinha e o livro.
- Tá bom. Tudo bem. Esclarecido. Boa tarde.

Ele já ia se virando pra sair, quando um destes estudantes calouros que pagavam trote no sinal de trânsito disse alto:
- Vai embora assim? Não vai pedir desculpas não?
O gerente riu sem graça:
- Por favor me desculpe.
- E o outro ai..não vai pedir desculpas também não?
Escutei algumas vozes de apoio vindas daqueles que estavam assistindo.
-É isso ai mesmo..desculpa ai..pede logo..
O segurança:
- Me desculpa?
Eu respirei fundo e fiz um sinal afirmativo com a cabeça e fui saindo.

Uma senhora surgiu e me convidou:
- Conheço uma advogada que vai botar esta loja no pau...quer o endereço? Isso não se faz.
- Se fosse comigo eu meteria um processo em cima e ia receber cem vezes o valor gasto no que comprei... me fazer  passar esta vergonha? Não mesmo, cara...- disse  o calouro.
- Deixa pra lá - eu respondi - deixa. Obrigada.

A platéia se dissipou e todos voltaram a seguir seus caminhos. Satisfeitos com o desfecho ou não.
Fui caminhando até o prédio onde ficava o consultório do meu médico. A mesma senhora ainda me fazia companhia. Ela falava sobre o processo que ganhou anos atrás, numa tentativa de aguçar o que eu não sentia ou não queria sentir naquela hora.
Horas depois refiz o mesmo caminho de volta pra casa e passei em frente a loja.
O mesmo segurança estava lá, ele não me viu entrar porque se despedia despistadamente de uma mulher grávida que lhe mandava beijinhos. Deduzi que eram casados.
Lá dentro, comprei o mesmo livro. Pedi a moça pra colocar na sacola branca de plástico. Na saída eu entreguei a ele.
- Toma, você vai gostar de ler, aceita este presente.
- Pra mim?
- Sim. É o mesmo livro que comprei naquela hora. Por favor, não jogue a sacola no lixo e nem  o livro.
Ele pegou da minha mão e eu fui embora. Não olhei pra trás.  A vida continuava e eu me absolvia.

*Não vou fazer merchandising da loja e das outras pessoas. Bobagem.
Mas o livro que comprei nas duas vezes que entrei na loja é O LIVRO DO PERDÃO.
Leia também!

Há braços!!
Elisa C.

sábado, agosto 7

Samba de alforria

Desatei o nó na garganta
acendi as luzes do meu corpo camarim
bebi a dose certa na madrugada
minha paixão que canta
pros boêmios de botequim
há muito tempo não me ouvia
acalentar o samba que te fiz
enquanto você me deixava
libertando as chaves da casa
deixando o copo vazio
a cama sem cio
e a saudade só pra mim
Hoje eu resolvi acertar as contas
desta mágoa
quebrei correntes
dei alforria pro meu coração
estendi no palco
tapete vermelho
deixa passar esta dama
da desilusão
deixa cantar esta voz
que não estamos sós.

EC

domingo, agosto 1

Receita de poema comestível

Ontem,
reuni-me com o azeite de oliva, as salsas, os tomates, dentes de alhos e coentros
aos poucos
os amigos foram chegando
lavando
conversando
picando
bebendo
amassando
cozinhando
rindo
fritando
cheiro de amizade fervendo na mesma panela
fogo brando
tempo digerido
poema no prato
festa em minha aldeia
reunidos em noite
de mais uma santa ceia.

EC