terça-feira, julho 14

Crônica do espetáculo Cantos de Euclídes

Os Sertões, Euclídes e as pessoas.

A arte é do povo. A arte tem que andar nas ruas, ser agente catalisador de opiniões, conhecimentos e novas idéias. Quando recebi o convite de três jovens atores, que além de grandes amigos pessoais, cultivam o bom profissionalismo nos trabalhos desenvolvidos, para participar do espetáculo Cantos de Euclídes, veio o famoso frio na espinha e a satisfação de saber que o teatro estaria bem pertinho das pessoas, sem quatro paredes. Assumi a aceitação. Foram cinqüenta e quatro pessoas envolvidas entre produção, técnica, atores, músicos e assistentes. Pessoas que conviveram harmoniosamente durante o tempo de exaustivos e prazerosos ensaios, abraçando a idéia do jovem escritor, e colega de cadeira da Academia Barramansense de Letras, Thiago Cascabulho.
Assim como no romance, éramos “sertanejos fortes” entregues à coragem de defender uma história que da ficção à realidade, caminha entre uma linha tênue de veracidade contemporânea.

Acredito que ao escrever “Os sertões” Euclides elegeu os personagens reais dentro de sua literatura, para que o mundo conhecesse o outro lado do Brasil e sua gente que vivia (e vive até hoje) num cenário onde a seca transformava os verdadeiros representantes da nação, em homens de pouca sorte mas com uma vontade expressiva em semear a esperança nos campos áridos do proposital esquecimento político.
Carregando inicialmente o estandarte, misturei-me ao povo. E a todos que vieram me perguntar o que estava acontecendo ali, explicava resumidamente o objetivo do trabalho e os convidava a participar, afinal estávamos nos apresentando para eles.
Após a explicação, ouvi a pergunta de uma senhora que nos acompanhava: Mas quem é Euclídes da Cunha? Ele está aqui na Flip? – Eu respondi que não, mas que nós estávamos lá por ele e por sua obra. - Aprendi a não rir da ignorância alheia, porque tem uma infinidade de assuntos que eu ainda não sei e estou a aprender muita coisa por vir. Convidei-a seguir conosco e ela foi até o fim, tenho certeza que agora já sabe quem foi e continua sendo ele.
Para sobreviver no sertão é preciso ser forte. Para sobreviver sem apoios culturais de massa é preciso residir com esta mesma fortaleza de jagunço.
E como diz o roteiro: Quem de nós não é um pouco Euclídes da Cunha?
Quem de nós não retrata todos os dias a presença do descaso com os incentivos das iniciativas que reproduzem com autenticidade artística, seja nos palcos ou nas ruas, uma obra de significado importante para quem assiste?
Desejo que outras ruas, cidades e outras gentes, conheçam e se identifiquem com este espetáculo. Recomendo a leitura do livro e aquele abraço.

Elisa Carvalho

Crônica publicada no jornal Diário do Vale
em 10/07/09

2 comentários:

edu disse...

Elisa voce e sua excelencia com os acontecimentos
beijos minha linda poeta morena

edu

Beto (muzikaos) disse...

Grande Elisa!
Amei o texto...
Escreva mais, escreva sempre, menina!
Beto (muzikaos)