Hoje, outro domingo teve um propósito especial de ser lembrado. Parte de meu Brasil comemorou o dia da Consciência Negra e a data coincide com o dia da morte de Zumbi dos Palmares. Acho estranho,no dia da morte, lembrar que a consciência existe seja ela que cor represente uma data. Para mim, Zumbi ainda vive na batalha interna de todo mundo que se prontifica a lutar contra o auto-preconceito, e dia 20 é justamente o dia oficial para não deixar morrer todo seu legado histórico.
A experiência de passar este dia no Quilombo de Santana e escutar a aula de Seu Miguel, com toda a simplicidade e respeito por sua cultura, fez com que eu o elegesse Mestre de uma oralidade que nenhum projeto governamental deve deixar sucumbir.
Seu Miguel levou-me a uma viagem no tempo em sua narrativa carregada de sabedoria, falou-me da fazenda que o tempo levou, dos senhores das terras que empregavam e não escravizavam seus trabalhadores, da igreja acima das montanhas e sua importância para as famílias que por lá se ajoelharam durante mais de duzentos anos.Transcendeu o passado respeitando o presente não permitindo que a especulação imobiliária devastasse sua história.
Seu Miguel é detentor do fruto-futuro de nossa libertação, é uma prova de que Zumbi dos Palmares realmente está vivo através da sua resistência em não transformar a comunidade num mercado turístico. Eu disse que Seu Miguel tem todo meu apoio em preservar o local, disse também que quem quiser que acampe por lá e deixe o verde limpo depois, também contei a ele que qualquer construção erguida, vai descaracterizar o cenário e que a única ESCOLA que tem lá é que deve ser palco anfitrião das iniciativas culturais e só.
Com a mesma atenção que o entreguei, sei que ele também me ouviu e muito me concordou. Fui embora sabendo que vou voltar, sai de lá com a consciência bem mais leve.
Elisa Carvalho